Primeira vez na estrada

Fala meu caro leitor! Que bom que você chegou aqui. Só para lembrar, esse post é continuação do Moto escola. Como eu tirei minha carteira. Caso você não tenha lido ainda, recomendo. Boa leitura!


Fui ao Detran próximo de casa buscar minha nova habilitação, só que agora com  AB estampado na frente. Eu parecia criança, queria sair andando com a habilitação na mão mostrando para todo mundo que agora eu podia andar de moto, ou melhor, andar na minha moto sem me preocupar ou ficar com peso na consciência de estar fazendo algo errado.

CNH

O Detran que fui ficava em um shopping em frente ao prédio que morava, não demorei nem 15 minutos para pegar a habilitação e chegar em casa para um rolézinho rápido pelo bairro. Não tirei nem minha hora de almoço, não queria saber de comer nada, só queria andar de moto. Lembro que o sentimento que tive era de que poderia passar o dia inteiro rodando pelas ruas do Rio de Janeiro, mas o que eu queria mesmo era pegar a estrada, acelerar mais que 80km/h, sentir a adrenalina mesmo.

Foto desse dia. A cara de felicidade do cidadão!

Entrei em contato com o grupo de amigos do Barreto que saia em desfile do meu prédio e falei “finalmente habilitado e quero pegar a estrada com vocês” e assim foi feita minha vontade. Peguei minha habilitação em uma quarta pela manhã e sábado já estava me preparando para enfrentar a estrada para Teresópolis, região serrana no Rio de Janeiro.

Eu estava tão destemido que não só ia pegar a estrada de moto pela primeira vez como ia com garupa. Para falar a verdade quem estava sendo destemida era a Nathi, minha esposa que topou subir na garupa de um cara inexperiente e pegar a estrada.

O sábado finalmente chegou, o céu estava azul e limpo e não estava quente demais. Tudo estava a meu favor. Lembro que eu quase não dormi de tanta ansiedade, revisei no Google Maps o caminho umas 50 vezes, curva por curva. Eu só queria pegar a estrada, mas tinha a preocupação com a segurança é claro. Não queria queimar a largada e ganhar meu primeiro tombo, principalmente com a Nathi na garupa.

Tudo pronto, todos estavam no meu prédio e “foi dada a largada”. O frio na barriga era absurdo, a garganta secou na hora! Eu tinha acabado de tirar a carteira de habilitação em uma 125cc, sem garupa e em um circuito fechado e agora estava na minha Viúva Negra de 650cc 4 cilindros, 240 kg e com garupa indo andar a 110/120km/h. Acho que era um pouco diferente né? Isso é algo que acho muito errado do Detran, acaba sendo muito perigoso para os novos motociclistas! Eu não passaria no circuito com a Bandit nem por decreto, mas bola para frente, eu passei e queria pegar a estrada.

Dedo de Deus
Essa não é uma foto do dia narrado

Saímos de casa em nossa micro motociata, o sorriso no meu rosto quase não cabia no capacete de tanta alegria. Eu estava realizando um sonho e isso que importava. Nem o frio na barriga, nem a secura na garganta ia estragar aquele momento.

Partimos de Vila Isabel (bairro onde morava na época), pegamos a Linha Vermelha, e já estávamos a caminho de Teresópolis, quando de repente precisei fazer uma frenagem de emergência por causa de um caminhão que fechou um carro. Eu tinha experiência para isso? De forma alguma! Alicatei o freio dianteiro com tudo junto com a pisada forte no freio traseiro, a roda de trás travou e a traseira saiu, mas rapidamente eu me toquei no que estava acontecendo e soltei os freios para realizar uma nova frenagem com menos força dessa vez. Tudo certo, sem acidente, mas, com o perdão da expressão, “Cu na mão” me definia naquela momento. Trincou legal o toba! Nathi falou calmamente no meu ouvido “Quase heim”, mas no fundo no fundo ela estava com o toba trincado como eu e queria falar “PUTA QUE PAREEEEEEEU!”.

Depois desse incidente eu procurei muito na internet e em livros, assisti vídeos do Leandro Mello, Bruno Corano, Durval Careca e outros pilotos que encontrei. Tentei pegar o máximo de conhecimento possível e foi nessa de andar nas ruas do Rio de Janeiro, pegar estrada, assistir vídeos, testar em locais seguros que aprendi a andar de moto. Não aprendi e ninguém vai aprender a andar de moto na moto escola! Isso é ilusão… Por isso que morre tanta gente de moto, saímos completamente despreparados e prontos para fazer besteira, muitas vezes sem saber que estamos fazendo besteira.

O brilho no olhar e a alegria de pegar minha primeira estrada não foi abalada por conta desse susto e voltamos para casa sem nenhum outro incidente. 120/130 km/h… Como é gostoso isso! Eu li em algum lugar a seguinte frase “Quando andamos de carro vemos a paisagem, quando andamos de moto fazemos parte dela” e é exatamente isso.