O assassinato da Vitórya Melissa me fez refletir

Em conversa com amigos do trabalho, fiquei sabendo dessa atrocidade que aconteceu no Plaza Shopping em Niterói, município do Rio de Janeiro. Eu dei uma pausa no trabalho para ler a notícia, acabei assistindo ao vídeo (que não estará aqui nesse post por questões óbvias) e parei para refletir como o mundo está doente.

Para quem não sabe do que estou falando, no último dia 2 de junho de 2021, Vitórya Melissa Mota de 22 anos foi assassinada a facadas por Matheus dos Santos, um colega de faculdade de 21 anos que nutria uma paixão doentia por ela. Ao que se sabe, o motivo do assassinato foi amor não correspondido.

No dia seguinte, segundo os policiais e pessoas que acompanharam a transferência do assassino para o sistema prisional, Matheus permanecia com a roupa suja de sangue, calado e com uma fisionomia assustadora.

Foto: Filipe Aguiar

O prazer perverso e a banalização da desgraça

Imediatamente após essa barbare, vídeos e fotos do assassinato começaram a “pipocar” nos grupos de Whatsapp. Era possível ver muito sangue e uma luta para manter a vida após o ataque. Você provavelmente recebeu algo no seu telefone e sabe do que estou falando.

No mundo globalizado de hoje, toda tragédia, toda desgraça e todo crime é registrado por quem passa e quase que imediatamente as pessoas recebem e compartilham com seus amigos. Esses, por sua vez, passam a diante e em minutos milhões de pessoas tem acesso a essas imagens, sejam elas crianças, adolescentes, adultos ou idosos.

Outro grande exemplo disso é quando acontece algum acidente de trânsito, 99% das pessoas que chegam perto após o acidente não tem interesse em ajudar ou ver se o acidentado está bem, eles querem registrar o momento da desgraça para compartilhar. Isso aconteceu comigo. Em 2019 eu sofri um grave acidente de moto e, graças a Deus não quebrei nada, mas me ralei feio. Em quando estava ligando para o SAMU, Polícia e etc (foi “atropelado” por um ônibus) veio um cara e pediu para bater foto do meu ferimento. Eu olhei para a cara dele e incrédulo soltei um “é sério isso?” e ele respondeu, “sim, não vou mostrar seu rosto não”… Se quiser saber mais sobre esse acidente, assista esse vídeo aqui.

Voltando ao assassinato da Vitórya… Quando comecei a receber as imagens, imediatamente parei para refletir no motivo das pessoas sentirem prazer em ver e compartilhar esse tipo de coisa. Sempre que algo assim chega até mim, esse ciclo de compartilhamento acaba pois eu não saio distribuindo.

Tentando entender esse fenômeno, dei uma googlada e encontrei algo sobre Schadenfreude, um termo de origem alemã que literalmente significa, alegria ao dano. Esse termo foi criado para designar o sentimento de alegria ou satisfação perante o dano ou infortúnio de um terceiro. Em outro site eu encontrei mais uma definição, segundo essa fonte Schadenfreude também é conhecido como o prazer perverso.

Schadenfreude, ou o prazer perverso, é bem amplo. No meu entendimento, ele vai além de somente querer ver a desgraça, mas se enquadra no famoso “bem-feito, fez por merecer”. Mesmo achando que algumas situações e em alguns casos eu tenha esse prazer, como por exemplo, ver um pedófilo ou um estuprador se estropiar, não é um sentimento saudável.

Esse sentimento sempre existiu na humanidade, mas por qual motivo o brasileiro tem isso tão aflorado? Eu tentei entender, encontrar uma resposta e algo me veio em mente. Já tem um bom tempo que programas como Cidade Alerta e Balanço Geral estão presentes no nosso cotidiano. A grande maioria das pessoas não dispõem de recursos para pagar por uma TV por assinatura e se veem obrigadas a assistir esses programas que só mostram tragédia e desgraça, alienando os expectadores e fazendo com que o bárbaro se torne corriqueiro.

Entenda, saber da notícia, entender o ocorrido é diferente do que estou expondo aqui. Existem formas de saber sobre o assunto sem necessariamente “entrar de cabeça na piscina de sangue”.

Para fechar, fica aqui meus mais sinceros sentimentos aos familiares da Vitórya Melissa Mota e que a justiça, principalmente de Deus, seja feita.

Vitórya Melissa Mota. Descanse em paz