Finalmente minha primeira motocicleta
Fala meu caro leitor! Que bom que você chegou aqui. Só para lembrar, esse post é continuação do Reacendendo a chama das duas rodas. Caso você não tenha lido ainda, recomendo. Boa leitura!
No início do ano de 2013 eu estava trabalhando 100% do meu tempo como home office, uma coisa bem comum na área de TI (tecnologia da informação). Em uma bela quinta-feira de fevereiro, com o trabalho adiantado e com tempo livre na parte da tarde, sugeri ao meu sogro de irmos juntos até a concessionária onde ele havia comprado sua moto para olhar e namorar as motos expostas na loja, eu juro que eu queria apenas olhar e namorar as motos. Queria subir nelas, sentir o peso e o frio na barriga que sentia sempre que montava em uma bela máquina. Pois bem, vamos até a loja, disse ele.
Chegando lá, conversamos com a vendedora que havia vendido a moto para ele e, enquanto Barreto continuava o assunto, fui fazer o que eu queria fazer lá, namorar as motocicletas da loja. Sentei-me em uma, duas, perguntei o preço da terceira até que dei de cara com uma Bandit 650 N com apenas 6 mil km rodados. A moto estava impecável, a cor que não me agradou muito, era cobre, mas não importava, eu queria sair de lá pilotando aquela moto. Meu sogro de longe viu o brilho no meu olhar e já foi providenciando as perguntas: Quanto custa esta moto? Qual é o valor de entrada? Financiamento em quantas vezes? Documentação necessária?
Ao me aproximar dele e da vendedora, Barreto já estava com todas as respostas em mãos e foi logo querendo me convencer a “passar a ficha” para preparar o financiamento e sair de lá em poucos dias com essa moto. Arregalei o olho e falei: Calma Barreto! Eu vim aqui apenas para olhar. Sua filha e minha mãe vão me matar se eu comprar uma moto. Mas no fundo no fundo, meu coração estava acelerado em pensar que essa moto poderia ser minha!
Me foi passado o valor de entrada, as condições de pagamento e tudo mais. Eu falava que não queria, mas meu corpo mostrava justamente o contrário, foi aí que, com toda convicção do mundo falei: Ok, pode passar minha ficha, se aprovar eu compro a moto!
Eu falei de brincadeira pois achei que a ficha não iria passar, mesmo querendo muito que ela passasse, mas jurava que o financiamento não seria aprovado. Ao mesmo tempo que eu estava apreensivo em ter minha moto, eu ainda tinha uma pequena ponta de medo de…Ter uma moto.
Saímos da loja com a promessa de uma resposta até sábado. Eu teria que segurar minha ansiedade por dois dias inteiros até saber se eu realizaria o sonho de ter ou não minha primeira moto. Cheguei em casa e contei a loucura que havia feito para minha esposa. Ela não levou muito a sério essa história de passar ficha, acreditava que não passava de mais uma das minhas brincadeiras, principalmente em conjunto com seu pai, que é um dos maiores sacanas que já conheci na vida.
No dia seguinte, a vendedora entrou em contato comigo. Meu coração veio na boca para saber a resposta, mas não era a resposta da ficha ainda. Ela havia verificado no sistema que tinha uma Bandit 650 N preta em outra filial da loja, mais rodada que a que eu havia visto, porém em perfeito estado e com um preço bem atrativo. Se não me falha a memória essa outra moto estava com 19 mil KM, 13 KM a mais que a primeira. Desliguei o telefone, peguei o carro, meu sogro e minha esposa e fomos até a outra loja olhar a moto. Era uma Naked preta, cara de indomável, linda e atraente. Diferente da moto do meu sogro ela tinha o motor preto e não prata e não tinha carenagem, uma característica que me atrai muito. Sentei-me nela, meu coração bateu forte, fiquei arrepiado e foi amor à primeira vista! É essa! Quero essa moto! Falei para o vendedor.
Fui para casa 10x mais ansioso do que no dia anterior, só que eu teria que esperar mais alguns dias pois a vendedora teve que alterar a moto que entraria no financiamento e tudo mais. Tive que esperar sábado, domingo, segunda e, finalmente terça, que tortura.
– Oi Fernando! Tenho uma notícia para te dar. Sua ficha foi aprovada, vem aqui na loja com os documentos, para adiantar a papelada e você tirar a moto ainda essa semana.
Como fala o ditado… EEEEEITA!! Não é que passou a danada da ficha! E agora? Eu fiquei em estado de choque! Desliguei o telefone e fiquei parado por um instante sem saber se ria, se chorava, se contava para todo mundo. Certamente eu estava com uma baita cara de quem estava “Chorrindo” (um mix de quem está chorando e sorrindo ao mesmo tempo). Finamente eu teria minha primeira moto! Finalmente iria realizar um sonho de infância. Fiquei feliz e apavorado ao mesmo tempo pois havia acabado de fechar negócio com uma moto de 650 cilindradas com 4 cilindros. Mas o problema maior não era esse. Tinha dois pequenos detalhes que eu não mencionei até agora para você que está lendo… Eu NUNCA, repito NUNCA havia pilotado uma motocicleta e não tinha habilitação para pilotar uma! A brincadeira de passar a ficha havia virado realidade, e agora? E se eu não conseguir pilotar uma moto? E se… E se… E se? Como eu não havia pensado nisso antes? Na verdade, tinha mas eu jurava por tudo que era mais sagrado que essa ficha não passaria nem por um cassete! Tive um ataque de riso… E agora?
Pode vir buscar a moto!
Quarta feita, dia 26 de fevereiro de 2013. O telefone toca:
– Oi Fernando, sua moto está liberada, pode vir buscar!
Novamente, outro ataque de riso, novamente estava com cara de quem estava “chorrindo” só que agora acompanhado de medo, vontade de chorar de alegria. Como não tinha habilitação, sai da concessionária de garupa e com meu sogro pilotando. Que sensação incrível, como é bom andar de moto, como é gostoso sentir que você pode se ferrar em uma queda e ao mesmo tempo sentir o vento no rosto, o cheiro de tudo ao seu redor e o sentimento de liberdade faz com que isso passe e fique só as sensações boas.
Paramos no primeiro posto, desci da moto e certamente estava estampado na minha testa que a moto era minha. Enchi o tanque e tocamos de volta para casa. Ao chegarmos no estacionamento, minha esposa e minha sogra já nos aguardavam ansiosamente. Lembro-me de ter saído da moto e ter ficado olhando por alguns minutos pensando: “Cassete, essa moto é minha!”. Mas, voltemos ao pequeno detalhe de eu nunca ter pilotado uma moto antes:
– Pronto Fernandinho (é como meu sogro me chama), agora você precisa tirar sua habilitação e aprender a andar de moto. Falta pouco para você virar motociclista!
E realmente faltava pouco, só que esse pouco precisava de uma prova e uma provação. Será que eu seria capaz de pilotar essa ou qualquer outra moto sem morrer no trânsito? Eu juro que tinha minhas dúvidas, apesar da confiança estar elevada.
É, agora precisava resolver esses dois “pequenos detalhes”. Bati várias fotos, montei nela, abracei, chorei, “chorri”. Parecia uma criança que havia acabado de ganhar um presente tão esperado. Era inacreditável, uma sensação que não consigo descrever. Senti algo semelhante somente quando meu filho nasceu. Dê uma olhada na foto que separei que meu sorriso descreve bem meus sentimentos no dia que a peguei.
Fiquei olhando incrédulo para aquela máquina. Eu não conseguia acreditar que era minha. Eu não conseguia parar de olhar para ela, poderia ficar horas limpando e olhando cada detalhe da minha Viúva Negra (nome que dei para ela. Sim sou cafona e dou nome para minhas motos). Depois de uns 10 minutos em silêncio apenas olhando para a Viúva Negra, resolvi colocá-la no cavalete central, ligar, acelerar de leve e passar as marchas. Foi o que fiz, primeira, segunda, terceira e reduzia para segunda até chegar na primeira. Fiz isso algumas incontáveis vezes sem perceber que minha esposa, minha sogra e meu sogro estavam me observando e rindo. Tomei coragem e falei:
– Já peguei o macete, está na hora de dar uma volta na garagem.
Imediatamente o sorriso estampado na cara dos três havia desaparecido. Minha esposa falou que eu era louco, minha sogra não falou absolutamente nada e meu sogro falou:
– Você tem certeza que quer fazer isso agora? Não quer fazer uma aula primeiro?
– Tenho certeza! Vou passar a primeira e a segunda só! Fica tranquilo, que eu me garanto! – Afirmei. Só faltou eu lançar um “Confia no pai que o inimigo cai” HEHE
No fundo no fundo eu estava mais apavorado que os três juntos, mas eu precisava fazer isso, não ia me conformar em deixar minha Viúva Negra parada até eu começar as aulas na moto escola.
– Então vamos lá, vou tentar te acompanhar para dar um suporte – falou (Falou) Barreto – vamos lá, primeira, solta a embreagem aos poucos, sai da inércia e começa a andar.
Ao lado meu sogro caminhando como fosse o pai acompanhando a criança que acabou de tirar a rodinha de sua bicicleta. Mas, a moto tinha 240 kg e eu uns 90 na época, hoje eu nem conto mais… deixa quieto. Se eu fosse cair ele nunca iria conseguir me segurar. Quatro voltas depois, andando no máximo a 10km por hora e em primeira marcha, resolvi passar a segunda e acelerar um pouco mais, mas eu havia esquecido que o Barreto estava do meu lado e presenciei uma das cenas mais cômicas da minha vida. Eu acelerei e meu sogro começou a correr loucamente ao meu lado, tentando me acompanhar, e gritando:
– Calma Fernandinho, calma porra!!!!
No fim do dia eu já estava passando da primeira para segunda e em seguida para a terceira marcha sem levar nenhum tombo e com uma destreza e facilidade que não imaginava ter. Descobri que a mecânica de andar de moto é infinitamente mais simples que dirigir um carro, o problema são os perigos da rua.
Depois disso, todos os dias antes de iniciar meu dia de trabalho, eu ia para o estacionamento, “namorava” minha linda Bandit, limpava a sujeira inexistente (pois havia limpado no dia anterior) e ficava uns 30 minutos andando de um lado para o outro no estacionamento do meu prédio que tem um espaço bem grande. Somente depois desse ritual diário e matinal eu tomava um banho, meu café da manhã e sentava para finalmente trabalhar, e fazia isso completamente leve, como seu tivesse percorrido quilômetros em uma longa viagem de moto.
A única coisa que vinha na minha cabeça era: “Se andando no estacionamento eu me sinto assim, imagina o dia que eu finalmente pegar uma estrada!”
Essa história continua, aguarde os próximos posts! 🙂
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